Belcampo é um dos principais nomes do conto na Holanda. Seus contos reunidos têm quase mil páginas e perpassam diversos gêneros: ficção científica, horror, fantástico, sempre com um leve toque humorístico. Muitas vezes, o autor antecipa em anos temas que serão retratados por gigantes do gênero, como Philip K. Dick. Belcampo ganhou diversas honrarias durante a vida, inclusive três prêmios pelo conjunto da obra. Herman Pieter Schönfeld Wichers (1902-1990) adotou o pseudônimo de Belcampo por dois motivos: é a tradução em italiano de seu sobrenome do meio além de uma homenagem a um de seus ídolos literários: o alemão E.T.A. Hoffmann, que no romance O Elixir do Diabo possui um personagem chamado Schönfeld. Sua grande obra-prima, sem dúvida nenhuma, é O Grande Acontecimento. O conto (que muitas vezes é editado como uma novela) possui diversas edições, inclusive uma versão em quadrinhos, e está na memória afetiva holandesa pela lendária adaptação televisiva feita em 1975. O Grande Acontecimento causou enorme controvérsia na época de sua publicação, em 1946, e ainda causa. Em 2002, moradores da cidade onde o autor cresceu, Rijssen — onde a história se passa –, se recusaram a homenageá-lo com uma estátua. Para uma cidade extremamente conservadora, não foi nada agradável ver seus moradores retratados de forma grotesca, apenas com seus nomes trocados, no dia do Juízo Final. Em 2012, após muita luta, a família de Belcampo venceu a disputa e hoje o busto está presente na biblioteca. Foi a única vitória entre diversas tentativas de homenageá-lo em sua cidade natal. A relação de Rijssen com seu mais ilustre morador, aliás, sempre foi muito ambígua e conturbada. Belcampo colocou a cidadezinha interiorana no mapa em algumas histórias, mas não de maneira agradável.
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